Na novela de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, a ex-enfermeira ingênua e carente foi transformada numa dominatrix que sabe tudo desta arte. Seu prazer, ela acredita, advirá da consumação de um plano de vingança. Tudo, entretanto, lembrará uma paixão mal resolvida. A situação só vai piorar — ou melhorar, depende do gosto do freguês. O espectador pode não ser fã de brincadeirinhas de submissão, mas ninguém pode negar que as melhores cenas de “Insensato coração”, hoje, são as protagonizadas pela dupla.
Norma não vai bater em Léo, pelo menos num primeiro momento. Mas fará dele um escravo que terá de comer restos de comida e dormir num quartinho improvisado onde um dia houve um canil. O rapaz será obrigado a servi-la à mesa, e ela vai querer ser chamada de “dona Norma”. Ela o obrigará ainda a, de joelhos, engraxar os sapatos de Ismael (Juliano Cazarré). E, em outro momento, a revirar a imundície contida em latões de lixo. Paralelamente, os dois se tornarão amantes.
Tudo isso tem uma dose de folhetim pesado — sem medo de ser feliz — com o clássico gato e rato. Mas há também um ingrediente estranho ao novelão tradicional: não existe um desfecho feliz possível. É uma guerra entre um vilão — Léo — e uma personagem que poderia ter sido positiva — Norma —, mas que acabou irremediavelmente corrompida pelo ódio. “Insensato coração” investe num filão nunca antes explorado numa novela. Esta nova carta que Gilberto e Ricardo estão apresentando é muito interessante. Norma e Léo vão se alternar nos papéis de algoz e vítima, medindo forças. Os dois são personagens trágicos — não apenas dramáticos.
“Insensato coração” é para adultos. Resta ao público aproveitar as cenas que vêm por aí.
Kogut
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