No ar há pouco mais de um mês, “Fina estampa” já tem alguns destaques definidos. Entre eles está o ator português Paulo Rocha. Ele vem crescendo como o pretendente de Griselda (Lilia Cabral). É o caso de uma feliz combinação entre um tipo bem construído pelo autor com o bom trabalho do ator. Aguinaldo Silva não fugiu dos clichês e o personagem é um dono de lanchonete. Mas usou de uma dose de humor ao batizá-lo de Guaracy. O nome indígena, como ficou explicado numa cena há algumas semanas, foi escolha da mãe dele, brasileira.
A soma do prenome com o sobrenome — Guaracy Martins — funciona também como uma metáfora desta interseção entre as duas culturas, tão viva no caso das novelas. Portugal sempre gostou dos folhetins do Brasil. E o próprio Aguinaldo tem laços fortes com aquele país. Rocha está convincente com seu tipo meio ingênuo, dono de uma pureza comovente. Ele é, como Griselda, um personagem positivo, trabalhador, honesto etc.
A TV e o cinema de língua inglesa funcionam, de uma forma bem natural, como um mercado de livre trânsito para atores. Há casos curiosos, como o do galês Matthew Rhys, que domou seu sotaque e parecia um californiano no seriado “Brothers & sisters”. Ricardo Pereira, já um veterano na Globo, fez este esforço e surgiu em “Insensato coração” quase sem seu acento português. Rocha não buscou isso, nem seu papel pede. Mas o espectador brasileiro entende tudo o que ele diz. Em parte pela intimidade fraterna entre as duas culturas. Mas também pela ótima dicção do ator que já conquistou também a simpatia do público local.
via kogut